domingo, 15 de maio de 2011

Crítica de Carlos Perktold

É com muita satisfação que apresento o texto de Carlos Perktold*, crítico de arte, sobre a exposição Amanara.


As técnicas para confecção de obras de arte requerem conhecimentos prévios, algumas de difícil aprendizado. O resultado será artístico se aquela técnica escolhida for temperada com talento, perseverança e capacidade infinitiva do artista para enfrentar as vicissitudes da vida e do chamado mercado de arte.

A técnica do desenho é importante em qualquer uma das escolhidas pois sem ele, não se produz nem mesmo uma boa escultura, planejada antes no papel. Por incrível que pareça ao leitor desconhecedor delas, talvez a mais “fácil” seja a pintura a óleo, porque ela pode ser modificada a qualquer momento, seja na forma, seja na cor ou no conteúdo.

Daquelas consideradas difíceis, a aquarela tem lugar privilegiado, pois é impossível corrigi-la ou modificá-la. Quando tomada pelo papel, ela se espalha sobre o suporte de tal forma que, sem habilidade em lidar com ela, o resultado pode desagradar ao artista e ele perceba, antecipadamente, aquilo que o colecionador ou o espectador notará depois. O bravo e perseverante pintor terá que recomeçar uma nova, num novo suporte.

Por tudo isso, Jean Paulo é, além de artista aquarelista por excelência, um corajoso que vem  a  público, como fez em outras ocasiões, com novos “textos” escritos  apenas com aquarela. E, mais ainda, os traz bem “escritos”, com aquelas exigências “sintáxicas” que andam perdendo o prestígio entre os apaixonados pela chamada “arte contemporânea”. Essas exigências são a composição equilibrada, ritmada, com o número de ouro calculado e, cuidadoso como Jean Paulo é, tudo aplicado sobre papel de excelente qualidade, garantia de durabilidade. A “sintaxe” de uma composição pictórica é aquela  equivalente do texto escrito com clareza no qual a velha e boa regra está de pé: sujeito, verbo e predicado num raciocínio com clareza.  

Jean Paulo demonstra o mestre que é no desenho e nas aquarelas nesta exposição, cujo título “Amanara” condiz com seu conteúdo: água e chuva em tupi-guarani. Se o título nos remete ao interior do país com os povos barbaramente massacrados para que houvesse o país que somos, suas aquarelas nos trazem à amanara de Belo Horizonte e seus conhecidos locais, com o encanto da transparência nas cores, nas figuras humanas e nas paisagens citadinas ou rurais, algumas demonstrando ameaçadores temporais de clareza solar sobre o suporte. O resultado final é sempre de beleza e encantamento.

(*) Carlos Perktold é psicanalista. Integra a ABCA, AICA e o Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais. 

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